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Blog Escrivaninha: Guerreiras de Itaitinga - rede colaborativa fornece apoio a familiares de presos


Ausência de uma rede de apoio destinada às famílias de Itaitinga motivou a criação de um grupo de mulheres, que se autodenominam de “guerreiras”. Elas fornecem suporte às famílias de internos e atuam com bastante desenvoltura nas redes sociais.

Por Luiza Vieira, em Blog Escrivaninha.


Cada preso traz consigo, quase sempre, um núcleo familiar que precisa de cuidados. Oferecer suporte às famílias de internos do complexo prisional localizado no município de Itaitinga, na Região Metropolitana de Fortaleza (RMF), é o principal objetivo do grupo “Guerreiras da Itaitinga-CE”, que atualmente integra mais de mil pessoas. O perfil do Instagram, que conta com mais de 2,3 mil seguidores, traz vídeos sobre o cotidiano dos presos e das famílias, contatos das unidades prisionais, frases motivacionais e, principalmente, informações sobre a rotina do sistema prisional e do próprio funcionamento do grupo.


A orientação às demais “guerreiras”, como elas mesmas se chamam, possui um papel central em meio a todas as adversidades enfrentadas a começar pelo próprio estigma social que o presidiário e sua família carrega. “A gente sabe o quão difícil é a questão das visitas e da entrega do malote. Então, a pessoa precisa ser guerreira mesmo para lidar com tudo isso, ter sangue no olho para poder enfrentar. Pensando e sabendo como é a situação, a gente conversando decidiu colocar esse nome”, revela uma das integrantes cuja identidade é preservada.


De acordo com uma das administradoras da página, as atividades do grupo consistem em informar e “dar suporte às demais guerreiras que estão iniciando a caminhada”, tendo em vista que a rotina dos familiares dos internos deixou de ser uma luta individual para se tornar uma batalha coletiva travada todos os dias por mães, irmãs e familiares de primeiro grau.


Exemplo de dica fornecida no perfil. Saber como se vestir e se portar é um item fundamental dentro dos protocolos exigidos no sistema prisional.


Uma das administradoras do grupo identificou a ausência de uma rede de apoio destinada exclusivamente às famílias de Itaitinga. A partir disso, ela sentiu a necessidade de criar um grupo dedicado às visitantes da unidade prisional daquela região. “A gente não via nas redes sociais um ponto de apoio para as guerreiras em si da Itaitinga. A gente vê um ponto de apoio para as guerreiras de outros estados. Então, com essa vontade de ajudar, de compartilhar informação e tendo um nome em mente, a gente criou a página pensando nisso tudo”, afirmou.


O grupo reúne familiares de primeiro grau de detentos. São elas as responsáveis pelo envio de insumos para os internos, tais como produtos de higiene e marmitas. De acordo com Júlia (nome fictício), muitas mulheres precisam de ajuda para entender como o sistema funciona e de como ocorre o processo de compra e do envio dos malotes, por exemplo.


Atualmente, a página não possui parceria com terceiros. Consequentemente, todos os recursos são captados pelos próprios integrantes. Dentre as principais dificuldades enfrentadas por integrantes do grupo está a compra dos malotes. O valor varia de acordo com a necessidade do interno. São disponibilizados para a compra três tipos diferentes de kits. No entanto, a adesão fica a critério do familiar, que pode adquirir o malote pronto ou comprar os itens para montá-lo por conta própria.


Ação social


Júlia pontua que o grupo também auxilia as “guerreiras” que necessitam de apoio financeiro para a adesão do malote, que atualmente custa entre R$ 85,00 e R$ 250,00. Ela afirma que, juntamente com outra administradora da página, realiza ações beneficentes, como a arrecadação de roupas e calçados que são distribuídos às famílias carentes da região.


“A gente tem ação social que é ajudar as famílias carentes com calçados e roupas que a gente arrecada também. Isso a gente já fazia antes de criar a página. Agora é que a gente vai fazer mesmo”, relatou. Júlia acrescenta que, muitas vezes, os recursos financeiros são arrecadados por meio de rifas solidárias e suporte no grupo das guerreiras.


Organização


Em termos de organização interna, a divisão das equipes é feita por meio dos presídios e de suas alas. Cada unidade prisional possui seu grupo no WhatsApp em que são divulgadas informações sobre o dia das visitas, a organização de reuniões e manifestações. “Por exemplo, a CPPL 3 tem seu grupo geral, mas também tem o grupo das alas. Cada ala, cada grupo, tem a sua responsável. Nós, que fazemos parte das Guerreiras de Itaitinga, temos a nossa ala, temos o nosso grupo, mas também ajudamos outras guerreiras a entrarem nos seus grupos, a qual nós temos acesso”, pontuou.


O suporte oferecido às visitantes ocorre tanto por meio da página no Instagram quanto por intermédio dos grupos no WhatsApp. “A gente busca ajudar, seja por meio da página, a qual tem tido avanço em questão de ajuda, mas também seja por meio do WhatsApp, nos grupos em geral, no qual a gente compartilha. Sempre tem algumas guerreiras que estão ali, que ajudam e dão aquele suporte, fortalecendo junto da gente outras que venham a precisar da nossa ajuda, seja no malote, no lanche, numa passagem… Ou seja pra mandar um advogado”, explica a administradora da página.


Após o interno receber o alvará de soltura, os familiares notificam os membros no grupo de WhatsApp e deixam de fazer parte da equipe. Apesar disso, muitas dessas pessoas continuam auxiliando as “guerreiras” que permanecem na rotina. “Muitos familiares continuam mantendo contato com as administradoras para poder ajudar as outras guerreiras que estão nessa caminhada. Muitas saem, mas continuam ajudando”, concluiu.

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