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O dedo de Tomé



Por pe. Marco Passerini


A narrativa do Evangelho de João (20,19-31), neste segundo domingo após a Páscoa, fala de Tomé, o apóstolo que custou acreditar na palavra dos demais apóstolos que pretendiam convencê-lo que Jesus tinha estado com eles, ali no cenáculo, apesar das portas trancadas. O descrente Tomé, poucos dias depois, é convidado por Jesus a colocar o dedo em suas chagas, sinais da paixão, e deixar de ser incrédulo.


“Colocar o dedo”. No conhecido quadro de Caravaggio é o próprio Jesus a introduzir o dedo de Tomé até a ferida ainda aberta. “Meu Senhor e meu Deus”, exclama o apóstolo. A partir daí, só silêncio e emoção. Se hoje não temos a sorte de provar a emoção e o encantamento de Tomé temos, porém, a mesma oportunidade de “tocar” as chagas abertas quando oferecemos atenção e cuidados aos tantos feridos de hoje.


Tocar a carne de Cristo que sofre, nos repetia à exaustão Papa Francisco no Jubileu da Misericórdia de 2015:


“Quantas feridas gravadas na carne de muitos que já não têm voz, porque o seu grito foi esmorecendo e se apagou por causa da indiferença dos povos ricos. Neste Jubileu, a Igreja sentir-se-á chamada ainda mais a cuidar destas feridas, aliviá-las com o óleo da consolação, enfaixá-las com a misericórdia e tratá-las com a solidariedade e a atenção devidas. Não nos deixemos cair na indiferença que humilha, na habituação que anestesia o espírito e impede de descobrir a novidade, no cinismo que destrói. Abramos os nossos olhos para ver as misérias do mundo, as feridas de tantos irmãos e irmãs privados da própria dignidade e sintamo-nos desafiados a escutar o seu grito de ajuda. As nossas mãos apertem as suas mãos e estreitemo-los a nós para que sintam o calor da nossa presença, da amizade e da fraternidade. Que o seu grito se torne o nosso e, juntos, possamos romper a barreira de indiferença que frequentemente reina soberana para esconder a hipocrisia e o egoísmo”. (O rosto da misericórdia 15)


Difícil para Tomé acreditar na narrativa dos demais apóstolos que, mesmo depois de terem visto o Ressuscitado no meio deles, ainda permaneciam de portas trancadas por medo dos judeus de então e sem a coragem de enveredar pelos arriscados caminhos da Galileia. A humanidade ferida anda desconfiada, há tempo, de tantas narrativas estéreis.

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