Por G1.
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A confirmação da morte de um preso e de outros casos de Covid-19 no sistema penitenciário cearense preocupa as famílias dos detentos. Ao todo, as unidades de detenção do estado contabilizam 68 registros da doença, sendo 67 em agentes penitenciários. No Ceará, já são mais de 7 mil casos e quase 500 óbitos ocasionados pelo coronavírus. "Eu não consigo dormir, nem comer direito", revela a mãe de um interno, que não quis se identificar.
A mulher afirma que não sabe como está o filho, já que as visitas aos detentos estão suspensas no Ceará desde o início da pandemia, por decreto do Governo. Segundo ela, faltam informações da Secretaria da Administração Penitenciária do Ceará (SAP) sobre a situação da doença nas unidades de detenção.
'A SAP não lança um boletim epidemiológico, a gente não sabe como estão os presídios. A gente só sabe notícias pela imprensa. Se não querem a gente em porta de presídio, e a gente compreende e eu me mantenho distante para não levar nenhuma doença para meu filho, a gente precisa saber como a pessoa está", reclama.
'Desespero', diz irmã de preso
A irmã de outro preso, integrante da rede Voz do Cárcere, que reúne familiares de internos do sistema penitenciário no Ceará, afirma que "no geral, a situação de familiares e internos neste surto de Covid-19 é de adoecimento físico, psicológico e da alma".
"A Voz do Cárcere recebe relatos de mães em completo estado de desespero por saberem que o filho já teve tuberculose ou tem alguma limitação e está suscetível ao vírus por insalubridade e subnutrição", completa.
Em resposta ao G1, o titular da SAP, Mauro Albuquerque, afirmou que o órgão possui um programa, o denominado Carta-Email, para que detentos e familiares mantenham contato neste momento em que as visitas estão suspensas. A Pasta recebe cartas dos parentes dos internos por e-mail, redistribui as mensagens nos presídios semanalmente, e devolve as respostas às famílias.
A estratégia, entretanto, ainda é vista com desconfiança por familiares. "Como eles escrevem isso? Se ele tiver doente, isso vai ser colocado na carta?", questiona a mãe do detento.
Medidas de higiene
Outra preocupação dos parentes é a falta de materiais de higiene nos presídios. "Os internos estão relatando que esses kits entregues não são suficientes para uma cela de 20 a 30 pessoas. Eles precisam dividir um sabonete e um barbeador, por exemplo, para várias pessoas. Os advogados, ao visitarem seus clientes, os encontram sujos e com mau hálito", afirmou a irmã do interno.
Dados da SAP de dezembro do ano passado apontavam o total de 23.950 presos no Ceará, enquanto havia apenas 11.651 vagas. O excedente populacional era de 105,5%
A SAP garante que "o material básico e eficiente para higiene das internas e internos já é uma realidade e ganhou reforço da Pasta nesse período de combate ao coronavírus, conforme publicação da compra emergencial de material higiênico para reforçar os estoques e suprir a necessidade que o momento exige".
Mauro Albuquerque afirmou ainda que a Pasta toma medidas de segurança sanitária para prevenir o contágio do novo coronavírus nos presídios, com "triagens, ou seja, toda pessoa que entra no sistema penitenciário é medida a temperatura; tem que ter uso de máscara, luvas e álcool em gel e as distâncias são respeitadas". "Com o preso, aumentamos o banho de sol para 3 horas, porque é um fator de saúde", acrescenta.
Se um detento surgir com sintomas da Covid-19, "ele é encaminhado ao Sistema de Saúde, receitada a medicação, isolado em quarentena, faz um acompanhamento médico nas enfermarias, até ter alta. Se o quadro evoluir, é encaminhado ao serviço médico da Secretaria da Saúde", aponta o secretário.
Morte por vírus
No 7 de abril, o Ceará registrou o primeiro caso de Covid-19 no sistema penitenciário, em um detento de 24 anos, encarcerado na Unidade Prisional Professor José Sobreira de Amorim, em Itaitinga, na Grande Fortaleza. Em 18 de abril, foi confirmado um agente penitenciário infectado pelo novo coronavírus.
O primeiro óbito dentro dos presídios foi confirmado no dia 27 de abril. A vítima estava custodiada na Casa de Privação Provisória de Liberdade Professor Clodoaldo Pinto (CPPL) II, também em Itaitinga, antes de ser internado na Unidade de Pronto Atendimento (UPA) da cidade de Horizonte. Ele foi identificado apenas como J.P.L.V., de 36 anos.
A Secretaria da Administração Penitenciária esclareceu que foram realizados exames para Covid-19 em todos os detentos que estavam na mesma cela da vítima, e os resultados foram negativos.
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