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O POVO: Mães de vítimas da Chacina do Curió seguem em busca de justiça


Ao todo, 11 pessoas, dentre elas 8 jovens, foram mortas e outras sete, feridas

Por Lucas Barbosa


Passados cinco anos, familiares — sobretudo, mães — e sobreviventes da Chacina do Curió não só têm que conviver com o luto e com o trauma como também com o anseio por justiça. Foi em um dia 11 de novembro como este, mas em 2015, que se teve início uma matança que correria pela madrugada do dia seguinte. Ao todo, 11 pessoas, dentre elas 8 jovens, foram mortas e outras sete, feridas. Edna Carla Souza, mãe de Alef Souza Cavalcante, de 17 anos, lembra ter "perdido o chão" à época. Não bastasse ter um filho inocente morto, ainda tinha que lidar com o fato de que os assassinos tinham a missão constitucional de defendê-los, ela relembra. Aos poucos, conta, as mães das vítimas da chacina foram se unindo, até criarem o Movimento de Mães e Familiares do Curió. "Eu quero mostrar para esse Estado que os nossos filhos também têm o direito de viver, igualzinho ao filho do governador", afirma Edna. "Não tive filho para a Polícia matar." A revolta, desabafa, ainda é muito grande. "Para mim, o pior bandido é o policial que mata a própria população que paga o seu salário."


O misto de tristeza com cobrança por justiça é compartilhado por Maria Suderli Pereira de Lima, mãe de Jardel Lima dos Santos, 17. "É uma coisa com que a gente convive 24 horas. É inevitável. A gente deita, acorda e o pensamento é o mesmo", afirma. "Infelizmente, é uma coisa que a gente vai ter que falar a vida toda. Por mais que a justiça seja feita, nunca vai ser reparado o que aconteceu com a nossa família." Um sobrinho dela ainda foi vitimado na chacina. Baleado, ele chegou a ficar em coma, sobreviveu, mas convive com as sequelas do caso. "Eles simplesmente se prevalecerem do cargo, da farda, para fazer o que fizeram e achar que não vai ter retorno, uma cobrança? Tem que ter, a gente vai passar a vida toda cobrando."


Não ter como escapar do sentimento de perda também é relatado por Catarina Ferreira Cavalcante, mãe de Pedro Alcântara Barroso do Nascimento Filho, 18. Com o se aproximar da data, "todas as mães já começam a ficar ainda mais abaladas". "O que a gente espera e briga, cada uma à sua maneira, é que a gente consiga elucidar esse caso, que os acusados respondam pelos seus crimes", diz Catarina.


Nenhuma das vítimas da chacina da Messejana tinha antecedentes por crimes violentos, tendo sido mortas apenas por estarem na rua, em uma espécie de demonstração de força a criminosos da região. No caso de Pedro, chegou a ser informado pela Secretaria de Segurança que ele tinha dívidas por pensão alimentícia, o que Catarina esclarece não ser verdade. Na verdade, a dívida era de 1996, contraída por um homônimo. É mais uma justiça que Catarina cobra para Pedro. "Meu filho não era envolvido em nada de errado", ela ressalta.


"Não podemos nos calar. São jovens que foram arrancados dos braços de suas mães, que não deveriam ter morrido. Que deveriam ter o percurso de vida normal, crescer, ir à faculdade, se formar, se casar se quisessem. Mas não: a Polícia veio, com o aval do Estado", diz Edna.


Hoje, às 19 horas, Edna estará na live "Pelos nossos, sempre: por memória e justiça dos (as) adolescentes assassinados (as) no Ceará". O evento é transmitido pelo canal no YouTube do Fórum Popular de Segurança Pública do Ceará. A iniciativa ocorre no contexto da Semana Estadual de Prevenção aos Homicídios de Jovens no Ceará, instituída por Lei em alusão à Chacina da Messejana. Até a sexta-feira, 13, são realizados eventos onlines, como debates e oficinas com foco na violência contra a juventude, promovidos por Poder Pública e sociedade civil.


O que pede a ação civil pública da Defensoria

1. Atendimento psicológico permanente e medicamentos às famílias


2. Reconhecimento de responsabilidade do Estado do Ceará


3. Construção de um memorial em favor das vítimas fatais e sobreviventes


4. Publicar, anualmente, um relatório oficial com dados relativos às mortes ocasionadas durante operações das polícias


5. Que o Estado estabeleça metas e políticas de redução da letalidade e da violência policial


6. Delegação de órgãos independentes para investigar policiais suspeitos por crimes de homicídio, tortura ou violência sexual


7.Prazo de um ano, a partir da intimação da decisão que julga procedente os pedidos, apresentar ao juiz um relatório sobre as medidas adotadas para seu cumprimento


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