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"Nenhuma 'carreira' ou pedra atirada justificaria uma bala na cabeça por trás", protesta professor


Quartel do Comando Geral (QCG) da PMCE, março de 2019. (Foto: SSPDS)

Luiz Fábio Paiva é Professor da Universidade Federal do Ceará (UFC), pesquisador do Laboratório de Estudos da Violência (LEV) e relator da Plataforma DHESCA. Integra ainda o Fórum Popular de Segurança Pública. A partir de abordagem desastrosa da PMCE, que culminou com morte de garoto de apenas 14 anos (13/09) em comunidade carente de Fortaleza (CE), Paiva analisa as consequências que discursos de violência - aliados a inconvenientes silêncios - podem incidir sobre a sociedade.


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Policiais são confrontados com situações de violência todos os dias. Nestas circunstâncias, é possível que façam uso da força para proteger a si e aos outros. O problema no Ceará, no entanto, é que está evidente que, em diversos casos, policiais militares reagiram com violência à ameaça nenhuma.


Isto ficou claro nas imagens da ação em Milagres, quando não existia mais nenhuma ameaça e, mesmo assim, atiraram para matar. Agora, também, parece ser o caso da ação que matou Juan, de apenas 14 anos, no bairro Vicente Pinzon. Neste caso, nenhuma "carreira" ou pedra atirada justificaria uma bala na cabeça por trás.


É importante que o policial tenha sido autuado em flagrante. Mas mais importante ainda é a conscientização de que temos um problema grave na maneira como age a Polícia Militar do Ceará (PMCE).


Não tenho dúvidas de que policiais estão sendo estimulados a agir com violência em virtude das declarações absurdas do Presidente da República. Assim como também não tenho dúvidas de que o silêncio do Governador é outro fator produtivo das ações de quem deseja usar a força de maneira ilegal no seu dia a dia de trabalho.


Camilo Santana não tem o direito de não se manifestar, em suas redes sociais e na imprensa, condenando mais um ato de violência policial da PMCE, e se colocando ao lado dos familiares e amigos de Juan. Seu silêncio é uma irresponsabilidade com o cargo que ocupa, pois normaliza e legitima ações de violação aos direitos humanos, deixando uma mensagem clara de tolerância diante do inaceitável.


Desta maneira, enquanto a violência encontra terreno fértil para prosperar, o sofrimento de mães pretas e pobres é desprezado por lideranças que esquecem, ou até rejeitam, sua responsabilidade política diante de eventos de violência policial. Não é possível e aceitável continuar convivendo com isso...

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