Em certas situações é preferível se distanciar da possibilidade de acertar. O fato é que não esperávamos tão cedo.
Os acontecimentos atuais de novos ataques a órgãos públicos, transportes coletivos, viaturas de empresas privadas etc no Ceará vêm colocar nosso editorial “O silêncio que vem de lá", publicado mês passado (agosto), como instrumento reflexivo do que se vivência no Estado desde o dia 19 deste mês. Recomenda-se (RE)leitura.
O que se evidencia nesses acontecimentos é que, a despeito das estratégias e investimentos aplicados, se está longe de – e de certa forma é precipitado – se pronunciar que o Estado tem “o controle” da segurança pública e penitenciária. Ao contrário do que vêm verbalizando autoridades desde quando se iniciou a crise de violência no Ceará, consequência de facções criminosas em conflito.
Não desmerecemos a importância das ações, ainda que questionemos a proporção em certos casos. O recrudescimento das medidas disciplinares nos presídios, o aumento da população carcerária nas unidades historicamente superlotadas, as suspensões coletivas de direitos, dentre outros acontecimentos dos últimos meses, traz como efeito o controle sobre os corpos. O fato, no entanto, é que não causa a docilidade das mentes.
Mais policiamento nas ruas, auxílio das forças federais e de outros entes federativos, viaturas de cores chamativas, discursos inflamados, ainda que constituintes de importantes ações de garantia à segurança pública, apresentam-se com eficácia e eficiência limitada geográfica e temporalmente, quando se constata o ressurgimento de crises em pequeno e médio prazo.
Planejamento para ações de governo não se enquadram ao fenômeno enfrentado. O que será do sistema penal quando essa vertente político-administrativa findar? Como ficará a segurança pública se o controle das facções dentro e fora do sistema prisional se circunscreverem a medidas de governo, e não de Estado? São questionamentos para a sociedade (civil organizada) refletir.
Se o comando do crime continua de dentro para fora, a despeito de todas as ações efetuadas e festejadas pela Secretaria de Administração Penitenciária do Ceará (SAP), é de se fazer notar que o emprego da expressão “os presídios estão controlados” é insustentável.
Do mesmo modo, se o comado é de fora para dentro, o que declara a Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social do Ceará (SSPDS) também o é.
Já não se cabem estratégias de respostas políticas "ganha-tempo". Está evidente que é necessário revisar as estratégias até aqui empregadas. A não ser que se intente apenas ganhar tempo. A questão é: a que custo?
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