Pe. Claudio Bombieri é teólogo e antropólogo, reside atualmente em São Luis do Maranhão. Em Artigo de Opinião publicado com exclusividade pela Pastoral Carcerária do Ceará, o religioso comenta sobre o editorial 'O silêncio que vem de lá', divulgado em nosso Portal esses últimos dias.
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Acabo de ler o editorial ‘O silêncio que vem de lá’, publicado pela Pastoral Carcerária do Ceará. Fiquei atônito e desconcertado. Não é para menos!
Afinal, após aqueles terrificantes e inesquecíveis acontecimentos do começo do ano, marcados pela violência inaudita por parte das facções - mas também por forças policiais estaduais e nacionais, acreditava-se que o Governo do Estado do Ceará tinha encontrado uma fórmula que combinasse segurança pública com respeito mínimo aos direitos básicos dos aprisionados. E, o que mais interessa, uma política realista de ressocialização.
Por mera coincidência, li, anteontem, uma reportagem publicada no Jornal Jangadeiro que chamou a minha atenção. Segundo o jornal, só neste ano, o Estado do Ceará gastou mais de 4 milhões de reais em aquisição de armas e na promoção de treinamentos para agentes penitenciários. A reportagem finaliza afirmando que o Ceará já seria referência para outros estados.
Com base também nessas informações, torna-se mais esclarecedora a denúncia do Editorial da Pastoral Carcerária cearense. ‘O silêncio que vem de lá’, e o seu ‘grito inaudível’, parece ser o terrificante resultado de uma política do ‘‘tudo está dominado no pacificado Estado do Ceará"!
Na realidade, parece-me ser o fruto podre e envenenado da ação repressora do Estado, que impõe submissão humilhante aos vencidos. E que censura toda reivindicação interna e externa.
‘O silêncio que vem de lá’, dos que vivem atrás das grades, é também o silêncio imposto pelos ‘vencedores’ aos seus familiares, cuja voz não pode e não deve mais ecoar. Mas é, também, ‘o silêncio que vem de cá’! O silêncio cúmplice de uma sociedade que aplaude e se regozija intimamente com a tortura, o aprisionamento humilhante, a punição sádica.
É o silêncio criminoso de instituições, supostamente humanitárias, que se autoconvencem que a única medida social viável para retirar das ruas a ‘bandidagem’ é a ‘política do abate’. Ou o seu encarceramento puro e simples. É o silêncio farisaico de muitas igrejas que, ignorando a prática profética e misericordiosa de Jesus de Nazaré, acham que gritando exorcismos podem expulsar o satanás que se apossou de milhares de jovens infratores.
É desolador constatar que mergulhamos num estado de anestesia humana e paralisia social.
Como cidadão, como humano e como padre, continuo acreditando que chegou a hora de ‘quebrar o silêncio’! Ou, como o Mestre da Galiléia já dizia: "O que vos digo na escuridão, dizei-o às claras. O que vos é dito ao ouvido, publicai-o de cima dos telhados."(Mt, 10,27)
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